Natural que repórteres fizessem perguntas instigantes ao treinador da Ponte Preta, Marcelo Fernandes, sobre como se sentia ao vencer o rival Guarani, clube que o demitiu após derrotas seguidas para Anápolis e Náutico.
Calejado, a princípio Fernandes procurou se esquivar, ao citar que a vida de profissionais do futebol está sujeita a demissões, e que estava concentrado apenas no que diz respeito à Ponte Preta.
Dada a insistência para se arrancar dele resposta mais provocativa, Fernandes só lembrou que, ao assumir o Guarani, a equipe vinha de três derrotas consecutivas e que de lá saiu com 16 pontos.
NÓ TÁTICO
Feito esse registro, voltemos ao jogo em si e explicitar detalhadamente o ‘nó tático’ que Fernandes deu no seu adversário Matheus Costa.
Por conhecer de 70 a 80% do elenco bugrino – durante o período que esteve no Estádio Brinco de Ouro -, ele sabia que um dos pontos fortes do Guarani é a saída de bola pelos lados do campo.
O que fez?
Contrariou todas as previsões daqueles que imaginavam a Ponte Preta fechadinha, até com três zagueiros, e pensou racionalmente ao escalar dois atacantes de beirada, para que se juntassem ao centroavante Jeh.
Assim, desmontou o corredor que os laterais bugrinos Cicinho e Emerson exploravam – alternativa que ele havia criado na passagem pelo Guarani -, como a sua estratégia implicou em mais posse de bola da Ponte Preta no campo ofensivo, através de passes alongados.
E, quando necessário, tanto Bruno Lopes como Toró sabiam da incumbência de exercer o papel de recomposição.
MEIO DE CAMPO
Se os meias bugrinos Diego Torres e Isaque não são jogadores rápidos, na prática a incumbência de neutralizá-los foi colocada em prática através dos volantes Léo Oliveira e Luiz Felipe.
Como os laterais pontepretanos Pacheco e Artur cumpriram a determinação prioritária de se resguardar, o sistema defensivo da equipe ficou bem guarnecido, de forma que não se permitisse penetrações do time bugrino.
Assim, se durante o primeiro tempo estrategicamente ocorreu mais posse de bola e chances criadas pela Ponte Preta, a proposta após o intervalo foi se resguardar, com um ‘punhado’ de defensores na reta final da partida, visto que o Guarani abusaria – como abusou – dos chuveirinhos.
VANTAGENS
Quem suspeitou que a Ponte Preta ficaria enfraquecida com a debandada de vários jogadores do elenco, inconformados com atrasos de salários, na prática ocorreu o inverso.
Houve ganho na marcação com a fixação do lateral Pacheco no lugar do irregular Maguinho, que jamais merecia ter sido titular.
A pegada com Luiz Felipe e Léo Oliveira, na cabeça da área, tem sido mais consistente se comparada a Dudu – que voltou ao Vitória – e Lucas Cândido, que foi para a reserva.
E com opções de dois atacantes de beirada, sobram mais alternativas para o meia Élvis participar das construções de jogadas, com lançamentos.
O desenho tático montado por Fernandes ficou até acima do esperado, resultando em quatro vitórias consecutivas.
Se vai continuar dando certo e levará a equipe de volta à Série B do Brasileiro, só o tempo dirá, considerando-se as imprevisibilidades desta Série C.
MEMÓRIAS DO FUTEBOL
Já está disponível, no link https://blogdoari.futebolinterior.com.br/ , o quadro de áudio Memórias do Futebol, que aborda o ex-atacante Sávio, do Flamengo. E por que o trio ofensivo com Romário e Edmundo não deu certo, em 1995?