Este 23 de abril marcou o 37º ano da morte do narrador de futebol Dionísio José Pivatto, que atuou em veículos de comunicação de Campinas, inicialmente na Rádio Brasil e posteriormente a Educadora, na década de 80 do século passado.
E que morte estúpida!
Ele foi sugado pelas traiçoeiras águas do Rio Atibaia, no trecho de Campinas, em 1988, e morreu afogado.
Dionísio Pivatto foi um fenômeno da narração esportiva, e quis o destino que partisse exatamente quando atravessava a melhor fase na carreira.
Mil planos na cabeça, e naquela tarde de sábado de 23 de abril de 1988, quando gozava folga com a família, numa pescaria, se escorregou à beira do rio, foi se afundando, e como não sabia nadar foi levado pela correnteza.
BOICOTE
Véspera da morte, irradiante, transmitiu no Estádio do Canindé o jogo Corinthians e Ponte Preta, o único realizado pela Ponte quando quis entrar pelas portas dos fundos no Paulistão de 1988, respaldada por medida liminar.
A Ponte foi boicotada por todos outros adversários. Entrava em campo, dava a saída de bola após apito inicial do árbitro, e depois gastava o tempo exigido por causa da ausência do adversário.
E naquela citada sexta-feira, Dionísio esgoelou como de costume na transmissão, mal sabendo que a sua missão profissional acabava naquela noite, após um dia recompensado com fechamento de novos contratos publicitários.
CONVITE
Antes do jogo, ele me convidou para dividirmos um ‘peixinho’ no jantar, em restaurante nas imediações do estádio.
E sem rodeios propôs que eu retornasse à antiga casa – Rádio Educadora -, ao revelar a intenção de montar uma equipe de ‘ponta’, desconsiderando que ele era o “puxador do samba”. Os demais, claro, seriam coadjuvantes.
Infelizmente, sequer houve tempo para que refletisse na troca de emissora de rádio e possibilidade de conciliação com atividade em jornal.
Naquele jantar foi possível lhe revelar fato que havia presenciado, meses antes, quando ele ainda estava vinculado à Rádio Brasil, em ‘estouro’ de audiência.
Na ocasião, meu velho Fusquinha azul – relíquia que ainda preservo – havia me deixado no meio do trajeto ao Estádio Moisés Lucarelli, e o jeito foi encarar um ônibus lotado como sardinha em lata.
Eu era repórter de jogo da Rádio Nova Sumaré, comandada pelo saudoso mestre Nadir Roberto, e o atraso ao compromisso foi inevitável.
Aí, quando desci no ponto da Rua Abolição, quase esquina com Rua Álvaro Ribeiro, no percurso de aproximadamente 300m ao Estádio Moisés Lucarelli, acompanhei uma ‘multidão’ com rádio ligado.
Naquela altura, as jornadas esportivas das emissoras rolavam soltas. E sabem qual a proporção favorável a Dionísio Pivatto para a concorrência? Dos cerca de 20 rádios constatados, todos estavam sintonizados na transmissão do Dionísio, ou melhor, na Rádio Brasil.
Não havia sobrado nada para a concorrência. E quando tirei o fone do ouvido, já no estádio, ouvi um ‘eco total’. Só dava Dionísio. Impressionante!
ARREPIADO
Quando relatei o fato com esse detalhamento, Dionísio ficou arrepiado, incrédulo. Embora convicto da liderança de audiência no rádio esportivo de Campinas na época, jamais imaginava que fosse de forma massacrante, um rolo compressor sobre nós, de outras emissoras.
Confesso que fiquei intrigado, questionando o que faria no estádio empunhando microfone de emissora concorrente se todos queriam escutar o Dionísio com os seus jargões do tipo “é fogo na fundanga”, quando se referia a lances com projeção de gol.
O jargão ficou tão marcado que ele ganhou o apelido de Fundanga. Era um profissional que fazia das transmissões um show. E quando fechava o microfone, convicto da missão cumprida, transformava-se em uma criança.
ENSATUR
Nas viagens em ônibus da empresa Ensatur – do falecido Nabi Chedid -, que concentravam radialistas das emissoras de Campinas, Dionísio era a ‘primeira voz’ nas modas de viola, contava piadas e “ouriçava” a turma com pretensão de tirar uma ‘soneca’ após o trabalho.
Assim era Dionísio. Feliz pela dádiva profissional de narrar futebol. Valorizava cada momento da vida.